Édson Luis Bolfe
João Flavio Veloso Silva
Pesquisadores da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa
Grandes empresas de alimentos e bebidas têm anunciando estagnação ou até diminuição de suas vendas nos últimos anos por causa da mudança dos hábitos de consumo. Essas mudanças são resultantes de complexas transformações econômicas, culturais, sociais e ambientais. O crescimento da população, educação, urbanização, renda e longevidade são alguns dos indutores, potencializados pelo acesso e popularização do uso de mídias sociais e plataformas digitais.
Análises comportamentais indicam que as pessoas valorizam cada vez mais características que vão além dos preços dos alimentos. Dentre as novas expectativas, 34% indicam a conveniência e praticidade como fundamentais na hora de suas refeições. A confiabilidade e a qualidade, garantidas por selos ou certificações de origem, determinam escolhas e fidelização de 23% dos consumidores. Sensorialidade e prazer são características determinantes para 22%, e cresce a valorização de produtos gourmet, o terroir ou regionalidades. Já a conjunção de saudabilidade, bem-estar, sustentabilidade e ética na produção é fundamental para 21% dos consumidores.
Nas grandes redes de supermercados ou mesmo em pequenos comércios, é crescente a valorização de grãos, hortaliças, frutas, carnes, ovos, queijos, leite, sucos e bebidas com características únicas e originais. É intensificada a procura por produtos e alimentos em embalagens menores; minimamente processados; com maior vida de prateleira; isentos ou com teores reduzidos de sal, açúcar e gorduras; produtos naturais, fortificados, diet e light.
Essas mudanças no gosto e hábitos dos consumidores elevam a demanda por produtos agrícolas diferenciados e ampliam oportunidades para o produtor rural. A Embrapa tem feito esforços, em todo Brasil, contribuindo para que os agricultores e agroindústrias possam ter informações e tecnologias para acessar esses novos mercados. Sistemas integrados — como o de lavoura-pecuária-floresta (ILPF) —, produtos orgânicos, bem-estar animal, biodiversidade nativa, marcas regionais, certificações socioambientais são exemplos de diferenciais que passam a importar para os consumidores e influenciam na hora da comercialização.
Da mesma forma, a maior proximidade entre o produtor e o consumidor, como circuitos curtos de comercialização, criam oportunidades de diferenciação de fidelização dos consumidores. As relações de confiança ampliam-se. Adicionalmente, a culinária regional e o turismo rural têm criado novas oportunidades de geração de empregos e renda associados aos novos hábitos alimentares. A produção agrícola aproxima-se cada vez mais das nossas mesas e muda a maneira do consumidor perceber os alimentos.
Neste contexto, os desafios passam pela ampliação das oportunidades para todas as classes rurais; por aumento da participação em mercados competitivos; e por maior agregação de valor às características intangíveis dos alimentos. Com mais investimentos em pesquisas e inovações tecnológicas, aliados a políticas públicas setoriais e a competência dos agricultores, esses desafios se tornam oportunidades, levando maior desenvolvimento e valorização do meio rural brasileiro.
Artigo publicado na coluna Campo e Lavoura, do jornal Zero Hora